Kitabı oxu: «O Mistério Do Lago»

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O mistério

do lago

Juan Moisés de la Serna

Traduzido por Evelyn Torre

Editorial Tektime

2020

“O mistério do lago”

Escrito por Juan Moisés de la Serna

1ª edição: Março de 2020

© Juan Moisés de la Serna, 2020

Traduzido por Evelyn Torre

© Ediciones Tektime, 2020

Todos os direitos reservados.

Distribuído por Tektime

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Prólogo

Mergulhe no misterioso mundo da natureza humana, que o levará a questionar as origens da vida. Uma excursão levará a protagonista pelas montanhas estreitas até uma grande esplanada ocupada por um imenso lago de águas negras à margem de uma pequena e pitoresca cidade repleta de vizinhos amigáveis. Nada faria alguém suspeitar de algo escondido naquelas águas tranquilas, é uma paisagem bucólica durante o dia, mas o que acontece à noite?

A curiosidade da protagonista a leva a procurar respostas que vão além das explicações científicas e crenças populares dos habitantes do lugar. Descubra o que acontece quando enfrentam um dos maiores desafios da raça humana, sobreviver à extinção. O que você teria feito no lugar dela?

Na vida há muitas ocasiões

em que é bom investigar

e procurar uma resposta

para esclarecer a verdade

Que meio nos rodeia?

Onde estamos?

Que perguntas nos fazemos?

Que explicação procuramos?

AMOR

Dedicado aos meus pais

Sumário

CAPÍTULO 1 – UM NOVO DIA

CAPÍTULO 2 – INTERVENÇÃO ECLESIÁSTICA

CAPÍTULO 3 – AS NOVAS PROVAS

CAPÍTULO 4 – O EFEITO DA GENÉTICA

CAPÍTULO 5 – EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE

CAPÍTULO 6 – VOLTA À ORIGEM

CAPÍTULO 7 – UM DELES

CAPÍTULO 1 – UM NOVO DIA

Eu morri e voltei a nascer. Acordei bem cedo de manhã, deslumbrada com um poderoso raio de sol que atravessava o quarto na diagonal, vindo de uma pequena janela localizada acima da cômoda que ficava em frente à cama, e que deixei as persianas fechadas e a cortina aberta na noite anterior.

Depois de me espreguiçar um pouco com alongamentos suaves de braços e costas, senti-me bastante descansada, calma e relaxada, algo que veio a calhar depois para me recuperar de uma jornada exaustiva entre aquelas colinas acidentadas.

Sentei-me na beira da cama e olhei com calma ao meu redor enquanto tentava cobrir com uma das mãos aquele irritante raio de sol que parecia destinado a não me deixar continuar dormindo, como se fosse um galo do interior ao nascer do sol.

Não demorou muito para eu me situar naquele pequeno espaço onde cabia apenas a cama em que eu ainda permanecia, e diante dela havia a cômoda em que guardei minhas roupas e a mochila no dia anterior, como pude. E aos pés do móvel estavam minhas botas, ao lado de uma pequena cadeira de corda.

Apesar de não parecer nada com o meu quarto espaçoso e decorado com crochê, era um lugar agradável e confortável para descansar por uma noite, porque não sei se me acostumaria a viver em um lugar tão simples com confortos tão humildes.

Respirei fundo e, enquanto deixava o ar sair devagar, tentei adivinhar que vida agitada se desenrolaria além daquelas quatro paredes, uma agitação que notei quando ouvi sons que, apesar de não saber de onde vinham, logo reconheci.

Me espreguicei novamente antes de me levantar de vez, e fui até a cômoda para pegar minhas roupas e me preparar para sair. Fiquei muito agradecida por terem me recebido tão bem, a verdade é que eu não sabia o motivo para tal gentileza, porque eu era um estranha naquela cidade.

Por alguma razão oculta, que eu não conseguia entender, senti como se tivesse chegado ao fim da minha viagem. Ao contrário do que havia experimentado nas viagens anteriores, nesta eu não tive vontade de sair correndo daquele lugar. Não antes de conhecê-lo melhor. É como se, por um momento, eu tivesse perdido o impulso que sempre me fez avançar, seguir em frente sem saber muito bem para onde.

Parecia que eu tinha conseguido encontrar o que sempre aspirei desde pequena; um lugar em que me sinto bem-vinda e tranquila, onde a paz reina em toda parte, como eu havia lido nos comentários de outros viajantes: que depois de visitar diferentes locais do mundo, como uma obsessão, haviam encontrado aqui o seu lar.

Para alguns, esse lar era onde a opulência e a ostentação reinassem para todos os lados, contagiando os habitantes quase como hipnose rumo a uma vida superficial em que a aparência é o que mais importa. Para outros, era a beleza das mulheres locais que sagrava o local como perfeito para morar ou descansar nos últimos anos de vida.

Há quem considere a história dos edifícios como o que faz um lugar especial, um lar, como se dessa forma pudessem compartilhar e fazer parte da história do local. Até aquele momento, eu não havia tido esse sentimento, pois nem a história, nem a beleza ou a ostentação haviam me atraído o suficiente para me fazer sentir plena, completa e calma.

Terminei de fazer os exercícios de alongamento para as costas, braços e pernas, exercícios que aprendi com um alpinista profissional que havia escalado duas vezes o Monte Everest, o pico mais alto do mundo. Um relacionamento intenso, mas banal, porque eu sabia que ele era casado com a profissão e não deixaria nada nem ninguém atrapalhar seus objetivos, e foi assim que ele me abandonou para fazer seus próximos “oito mil” na tentativa de alcançar os treze picos restantes do mundo acima dessa altura.

Os exercícios eram movimentos simples, semelhantes aos realizados no yoga, alongar os músculos para evitar possíveis lesões, submetendo o corpo a exercícios continuados.

Tomei banho e vesti as mesmas roupas do dia anterior, inclusive minha companheira pesada, a mochila, onde trazia tudo que julguei necessário para todos os três dias que planejei para essa viagem.

Além do kit de primeiros socorros indispensável, eu carregava um tapete que servia de colchão, um cobertor plastificado para me cobrir na hora de dormir e para o caso de chover e, é claro, alimentos desidratados e água para manter a forma durante as longas caminhadas e levava fora da mochila todo o equipamento de escalada para minhas viagens à montanha.

Depois fui para uma sala contígua onde já haviam posto um café-da-manhã escasso e austero composto de um pedaço de pão duro, um pouco de óleo e um pouco de leite e, é claro, senti falta de um bom café forte do jeito que eu gostava de tomar antes de ir para o escritório.

Depois de comer tudo sem muita vontade porque eu era uma daquelas pessoas que escolhe a comida com os olhos, e esta refeição não parecia muito apetitosa, fui explorar a cidade e seus arredores, porque apesar de ter chegado à tarde ontem, a quase ausência de luz havia me impedido de ter uma ideia mais ou menos precisa de onde eu estava, algo tão necessário se eu precisasse regressar.

Além disso, procurei na paisagem por elementos distintos e característicos que fossem bem visíveis à distância, para que me orientasse melhor, porque quando se está entre as montanhas, todas podem parecer iguais, e é fácil se perder, especialmente em locais que a bússola nem sempre funciona devido às rochas ricas em ferro.

Eu costumo buscar algum tipo de irregularidade, algo peculiar, uma árvore grande que se destaca das demais, uma rocha saliente ou uma cavidade peculiar entre duas montanhas, tudo o que me permitisse saber para onde devo ir se quiser chegar ao meu destino.

Embora no começo, quando eu estava começando a fazer trilhas, não desse muita importância, a experiência e o fato de ter enfrentado dificuldades imprevistas me fizeram valorizar esses pequenos truques dos alpinistas, tão úteis quando você não sabe para onde está indo ou quando vai querer retornar ao local de partida.

É provável que, por esse motivo, eu tenha desenvolvido um gosto pela observação da natureza, uma paisagem tão diferente da que estava acostumada a ver do meu apartamento no meio de uma imensa cidade, o que, por vezes me deixava apática, fria e impessoal.

Por outro lado, quando estou na natureza, tudo é tão diferente, como se fossem dois mundos separados, quase opostos, e a fumaça que envolve a cidade dá lugar ao ar puro; os tons de cinza e preto característicos dos prédios antigos são alterados pelas cores vivas e brilhantes das plantas e flores; e o barulho incessante das obras e a buzina dos motoristas desesperados são substituídos pelo som das folhas balançadas pela brisa suave.

O que me chamou mais a atenção foi um grande lago em frente à vila, ficava em um vale formado por duas colinas altas que poderia ter sido a passagem de um grande rio agora extinto.

Provavelmente, as águas do lago não são o produto de uma nascente subterrânea como em outras localidades que eu já visitei, mas sim das chuvas de outono ou do degelo das nascentes das montanhas circundantes.

E de toda a extensão daquele grande lago que ocupava boa parte do horizonte até onde os olhos podiam ver, um pequeno detalhe me intrigou, que talvez tivesse passado despercebido a outros: a cor de suas águas, uma tonalidade que me lembrou a do petróleo, uma cor tão escura que competia com o tom de qualquer uma das montanhas rochosas que nos rodeava.

Eu estava acostumada com a transparência das águas cristalinas das lagoas e do orvalho da manhã, ou com os tons azulados dos fiordes ou lagos mais profundos, e até com a cor esverdeada que indica a presença de líquen ou algas; mas essa água totalmente negra me pareceu, no mínimo, desconcertante.

Aproveitando a presença de um dos moradores locais que passava, pedi a ele que interrompesse sua caminhada lânguida.

― Bom dia, homem simpático, você poderia me dizer se sabe por que o lago tem uma cor tão escura?

― Vejo que você é turista. ― ressaltou, fazendo uma pequena careta com o rosto quando parou para me ajudar.

― Sim, cheguei ontem à tarde. ― respondi satisfeita com sua suspeita.

― E vai ficar muito tempo? ― ele perguntou enquanto tirava o chapéu típico da região, e aproveitava a oportunidade para sacudi-lo um pouco.

― Eu não sei, só estou de passagem. ― respondi, surpresa pelo interesse dele.

― É uma pena! Seria bom se os turistas ficassem por um tempo. ― comentou, recolocando o chapéu e se preparando para continuar a caminhada.

― Sobre o lago… ― comentei rapidamente, lembrando-o do motivo da nossa conversa.

― Não sei como dizer, talvez por causa da cor das entranhas das rochas que formam essas montanhas, tudo que sei é que a água não é potável. ― continuou ele, enquanto começava sua lenta caminhada pelas ruas da cidade.

― É uma suposição! ― exclamei meio perturbada e nem um pouco convencida, porque, pelo que sei, as águas provenientes do subsolo, como no caso de nascentes e fontes termais, que formam muitos lagos, em geral são encontradas em locais especiais e contêm certos elementos na composição, como minerais ou sais que conferem certas propriedades terapêuticas.

É justamente nesses locais que costumamos encontrar spas, tão recomendados para idosos ou para tratar certas doenças reumáticas e até asmáticas, com o objetivo de aproveitar essas propriedades especiais da água, tornando-se uma referência e um dos maiores atrativos da região.

Uma cidade que esteja perto de um lugar assim pode ser considerada abençoada, uma vez que, em torno desses spas, que são lugares projetados para se recuperar a saúde ou simplesmente descansar e relaxar, todos os tipos de negócios surgem para atender a qualquer necessidade ou capricho que o cliente possa ter.

Mas, neste caso, não há construção alguma perto do lago que pudesse tirar vantagem das águas, nem mesmo um pequeno cais onde os turistas possam se aproximar para contemplar sua extensão, não havia um único barco para servir de meio de transporte de turistas em busca de diversão.

Olhando para todos os lados, percebi que a pequena cidade de no máximo vinte casas parecia um pouco negligenciada, diria até que abandonada, com paredes e tetos um tanto lascados, com sinais óbvios do desapego de seus habitantes. É como se eles não tivessem muito interesse em promover aquela aparência quase idílica que outras aldeias almejam para atrair o turismo de fim de semana ou como no meu caso, turismo de montanha.

Como se não tivessem pressa pelo muito desejado progresso e prosperidade econômica. Um pequeno investimento em reformar as fachadas, pavimentar melhor a rua principal e, assim, tornar a cidade mais atraente, seria muito recompensado com o fluxo maciço de visitantes e, por conseguinte, viriam comerciantes, prestadores de serviços e todos os tipos de classes caça-fortuna dispostos a comprar, alugar e investir para colocar estandes de lembrancinhas, hotéis, bares e restaurantes.

Mas essas pessoas não demonstravam o menor interesse em mudar, viviam como seus pais e avós, desconectados do mundo exterior e, o pior de tudo, sem interesse algum em saber o que estava acontecendo lá fora.

Essa percepção me levou a verificar e descobrir que em nenhum dos picos adjacentes era possível ver uma dessas antenas telefônicas tão controversas, porque, embora ainda não houvesse veredicto científico claro; parecia que eram a causa do aumento de doenças tão sérias quanto o câncer, ainda mais entre a população mais indefesa, como crianças, mulheres grávidas e idosos, que levou vários países a promulgar leis contra essas instalações perto dos centros de estudo e creches.

Também não encontrei nenhuma daquelas antenas de televisão horrendas nos telhados das casas, que são tão feias e danificam bastante a paisagem. É bem comum que ao observar o céu em algumas cidades ou quando se sobe nos telhados, constatar como o horizonte foi literalmente tomado por milhares desses artefatos de metal.

E, para minha surpresa, não havia nem mesmo os postes de iluminação, tão necessários, que se tornaram uma parte indispensável da paisagem nos campos e nas cidades; pela necessidade de que a eletricidade chegue a qualquer casa e, assim, perceba, se cozinhe, lave roupas, etc. Que se realizem as infinitas tarefas que, de outra forma, seriam impossíveis pelo menos em um local civilizado.

Esse aspecto um tanto negligenciado do lugar e a ausência de qualquer indício de modernidade contrastavam com a aparente boa saúde de seu povo, e que até mesmo os mais idosos pareciam ágeis e sem dores, ninguém carregava uma única bengala ou muleta, e olha que o chão era bastante escorregadio, cheio de pedras usadas como paralelepípedos nas ruas, o que seria garantia de pelo menos uma entorse se não se tomasse cuidado.

Mas eles pareciam tão alheios a todas essas ausências, andando de um lugar para outro com tanta tranquilidade que duvido que a maioria precisasse cumprir alguma obrigação, porque com a pouca pressa com que se mudavam, não teriam tempo para cumpri-la.

Aproximando-me de uma das mulheres, vestida com roupas escuras, e que cobria a cabeça com um lenço preto, sentada em uma cadeira de balanço de sua casa, tomando banho de sol em paz, tentei obter mais informações sobre esta aparente falta de interesse das pessoas à beira do lago.

― Bom dia, senhora. Posso fazer algumas perguntas? ― falei com ela sem saber se ela estava acordada, pois seus olhos estreitados não me deixaram adivinhar.

― Minha nossa, uma turista! ― ela exclamou sem demonstrar o menor choque, e sem abrir os olhos.

― Sim, cheguei ontem à noite. ― respondi, como fiz com o morador anterior, um tanto surpresa com a atitude dela.

― O que trouxe você aqui? ― ela me perguntou antes que eu pudesse interrogá-la sobre o lago, e iniciou um movimento repetitivo de balanço que foi acompanhado pelo rangido característico de sua cadeira.

― Gosto de montanhismo, e essa era uma área que eu não conhecia. ― respondi, ainda sem saber onde estava.

― Não me surpreende. ― ponderou ela, colocando a mão na frente do meu rosto para cobrir o sol e me ver melhor, enquanto abria aqueles olhos cinzentos.

― Bem, eu gostaria de saber mais sobre o lago, porque sua cor chamou minha atenção… ― tentei jogar a pergunta de forma rápida.

― Vai ficar por quanto tempo? ― a mulher me interrompeu sem me deixar explicar, fazendo um movimento para se levantar, enquanto parava o balanço lento e silenciava o ruído de sua cadeira de balanço.

― Eu não sei, um ou dois dias. ― respondi meio em dúvida, sem saber muito bem o que traria tanto interesse, já que a outra pessoa com quem conversei fez a mesma pergunta.

― Uma pena! Se tivesse tempo, se pudesse ficar até a próxima lua, então veria como o lago é bonito. ― ela comentou com um sorriso largo, enquanto se recostava e recomeçava o movimento oscilatório.

― Bem, não sei quando será, mas voltando ao assunto, saberia dizer por que o lago é dessa cor? ― perguntei na tentativa de retomar o assunto que me interessava.

― Eu não sei sobre essas coisas, apenas que é assim. ― disse ela, indiferente, enquanto fechava os olhos para continuar seu sono e repouso.

― E você sabe por que a água não é potável? ― eu insisti, lembrando das informações que o morador anterior havia me dado, chateada pela passividade da mulher.

― A única coisa que posso dizer é que é um lugar sem vida e, portanto, não é adequado para uso, por isso preferimos deixá-lo como está. ― concluiu ela, um pouco irritada porque a conversa tornara-se muito longa, e moveu a mão com parcimônia, de um lado para outro, um gesto para que eu fosse embora.

Depois de agradecê-la por suas palavras, me voltei intrigada em direção ao lago, para vê-lo mais de perto, permanecendo pensativa ante aquelas breves palavras escutadas dos habitantes que pareciam não se preocupar em ter um lago tão grande na frente deles e, também, sem poder aproveitá-lo de nenhuma maneira.

Eu já havia lido sobre alguns tipos de águas que não são boas para o consumo porque contêm certos microrganismos ou simplesmente porque possuem altos níveis de substâncias tóxicas para o corpo humano, seja arsênico, enxofre ou qualquer outro elemento nocivo presente nos confins da Terra.

Chegando quase à margem, subi em algumas rochas que podiam servir de assento improvisado, e assim contemplar aquele estranho fenômeno em estado líquido, do qual mal consegui obter algumas palavras dos habitantes locais, não muito mais que ideia repetida de que a água não é boa para consumo.

Fiquei sentada em frente ao lago por algumas horas, admirando a cor que nos impedia de adivinhar o que havia nas profundezas de suas águas, sendo o comprimento a única característica óbvia, pois não havia nada que indicasse um rio ou cachoeira nas proximidades que fornecesse água corrente, mas, ainda assim, algo me surpreendeu, porque mesmo à curta distância em que eu estava, ainda não havia notado nenhum efeito negativo em minha saúde, nem mesmo o mau cheiro que costuma ser tão característico de áreas com substâncias perigosas ou em lagoas e reservatórios com águas estagnadas.

Logo fiquei encantada vendo as nuvens fluírem em um ritmo lento através das fendas das montanhas, ou acima de seus picos, e não pude evitar a comparação com a caminhada dos habitantes daquele lugar que pareciam despreocupados com a passagem do tempo, alheios ao pulso frenético de uma cidade.

Aqueles conglomerados espumantes de água evaporada formavam imagens curiosas, às vezes fáceis de identificar como um animal, e que mudavam ao capricho do ar, refletindo-se como se a superfície negra daquele lago fosse um espelho.

Mas, por mais que eu insistisse, não consegui ver o menor vislumbre de movimento em sua superfície, como se a água daquele lago estivesse imune aos influxos da brisa que, em qualquer outro lago provocaria pequenas ondas, suaves e espumosas, que bateriam contra a margem, mas não havia vestígios da menor perturbação, como se as águas fossem uma substância viscosa e impenetrável, mais parecida com componentes oleosos como o óleo.

Além disso, não havia nada vivo ao redor, nenhuma planta, por menor que fosse, crescendo nas proximidades de lugares úmidos ou líquen nas rochas onde eu estava, ou algas na superfície daquele lago, não se via nada vivo perto de mim.

Isso em relação ao que vi, mas mesmo acostumada às mudanças entre a cidade e o interior onde os sons são mais sutis, não conseguia ouvir o menor ruído naquele lugar que era, sem dúvida, propício para se descansar e relaxar, mas não se ouvia nem sapos nem pássaros.

O que, sem dúvida, me confundiu bastante, porque em locais calmos, por mais baixo que seja o ruído produzido, ele se expande por longas distâncias, enquanto na cidade, às vezes você precisa gritar para que a pessoa ao seu lado entenda suas palavras.

Tanto é assim que, para verificar se, por algum motivo meus ouvidos estavam comprometidos disse o que as crianças com tanta euforia fazem quando veem alguma gruta ou cavidade que possa gerar eco e gritei “Eco” e, depois de alguns instantes… Nada, tentei novamente mas virada para outro lado, desta vez com mais força e… nada.

Bem, pode ser que, por ser um local aberto, eu não tivesse a sonoridade necessária para formar o eco, o que havia ficado claro era que eu escutava bem. Estava segura de que não estava com os ouvidos entupidos nem nada parecido.

Mas, por não ter vida no local, nem mesmo aqueles animais pequenos e inoportunos, que costumam estar prontos para atacar tudo o que se move ou pelo menos incomodar como: moscas, mosquitos e uma série de insetos que vemos em ambientes rurais assim.

E de todas essas inconsistências, isto era o que mais me impressionara, porque em muitos lugares onde há acúmulo de água, se concentra muitos insetos, alguns atraídos pela vida que é gerada ao redor e outros esperando por visitantes desavisados para dar as boas-vindas. Não notei nenhum deles, mas durante todo o tempo em que estive lá, não vi nenhum, por menor que fosse. Tal descoberta me encheu de medo por um instante, tanto que até me fez dar um pulo enquanto eu me perguntava: “E se fosse verdade que a água era tóxica?”, talvez eu tivesse me apressado em me aproximar sem tomar nenhuma precaução, porque embora eu não apresentasse sintomas como asfixia ou tontura, eu não conseguia adivinhar o que causaria a ausência de animais voando na área. Bem, decerto prefiro pensar que as aves haviam migrado e não que morreram todas por envenenamento.

Depois de olhar para todos os lados e verificar se eu estava sozinha e que parecia não haver sinal de perigo, sentei-me na rocha, onde me sentia segura, porque apesar de estar perto da margem era uma distância boa o suficiente para não cair por descuido.

E abandonei qualquer ideia de que, quando o sol tórrido atingisse seu auge, talvez conviesse entrar no lago para banhar-me, ou pelo menos refrescar os pés na beira sem precisar entrar totalmente.

Algo tão inocente que eu já havia feito tantas vezes sem problemas era agora visto por mim como um possível risco para a saúde, pois não sabia se o simples contato com a água negra era suficiente para me deixar doente ou se apenas a ingestão era maléfica.

Eu estava no alto da pedra, deitada e relaxada, os olhos semicerrados e quase adormecida, meu olhar observava as nuvens quase que em hipnose, quando percebi algo muito estranho, era um som abafado, como se ouvisse a voz de alguém com a orelha grudada em uma porta.

Tal foi o susto que pensei que algumas pessoas haviam me visto e que haviam se incomodado, e que de alguma maneira eu provocara um escândalo e que deveria ir embora dali.

Olhei rapidamente para todos os lados, meu coração ainda estava apreensivo, mas não vi ninguém, e não tinha ideia de onde vinha aquele barulho contundente. Eu estava sozinha naquele lugar, sentada na pedra sem ninguém por perto quando aquela sensação voltou, talvez até mais forte.

Agora eu estava bem atenta, mas não conseguia descobrir de onde vinha, e se eu não soubesse que era impossível acharia que alguém estava batendo na rocha por baixo, porque eu podia sentir o tremor.

Fiquei um pouco preocupada com isso, me mantive em alerta, olhei para todos os lados, sem identificar nada de diferente, me preparei para sair de lá às pressas quando acontecesse de novo, é como se a rocha estivesse oca e a tivessem atingido com violência; mas não podia ser, não havia ninguém lá e rocha me parecia sólida.

Naquele exato momento, talvez por reflexo, olhei para o lago para ver se havia ondas na superfície em decorrência do tremor, como acontece quando uma pedra é lançada na água, e percebi que algo muito estranho estava acontecendo, a superfície que até aquele momento permanecia calma e imóvel, parecia estar abaulada e começava a afundar no centro. É como se tivessem retirado a tampa de uma banheira e o ralo drenasse com força, mas a calma do lago não foi interrompida por muito tempo, o formato côncavo se sustentou apenas por alguns segundos e depois voltou ao estado normal.

Tal percepção me deixou alarmada, não entendia o que estava acontecendo, erai a primeira vez que via algo assim, como se algo debaixo da terra se deformasse e refletisse na superfície.

Assustada com o que ouvi e vi, corri em direção à cidade, não muito longe, tão destrambelhada que quase caí da boca ao descer das pedras grandes, mas consegui impedir a queda no último instante ou meu rosto ficaria gravado no solo. Depois de me levantar, e sem me importar com as mãos machucadas pelo acidente, continuei correndo, a respiração entrecortada, não ousei olhar para trás.

Corri o mais rápido possível nos trechos que serviam de rua, mesmo correndo o risco de cair de novo, sem saber o que estava procurando, explicações ou abrigo.

Procurei em todos os lugares para ver se encontrava um morador para pedir ajuda, porque afogada pelo esforço não conseguia produzir o menor som que pudesse soar como um pedido de ajuda. Mas, apesar de me afastar daquele lago o mais rápido que podia e desse estranho perigo, eu ainda tinha aquela sensação avassaladora de que não estava bem.

Como pude, continuei correndo para onde ficavam as casas e, quando cheguei, não vi ninguém, algo ainda mais estranho, porque, quando saí, havia cerca de uma dúzia de vizinhos, entre os que andavam de um lugar para outro e os que sentavam-se tomando banho de sol na tranquilidade, mas agora, agora… tudo estava deserto.

Talvez eles estivessem tão assustados como eu e se trancaram em suas casas, refugiando-se, esperando que acabasse, fosse o que fosse, eu não tinha tempo para mais nada, nem queria descobrir esse mistério, estava mais preocupada em me salvar.

Cheguei na casa de quem me recebera na noite anterior, cujo dono estava preparando a comida quando saí; era um homem velho, que os vizinhos me disseram, à minha chegada, ser o único que possuía um quarto vago, porque sua filha havia deixado a cidade há muito tempo, havia se apaixonado em uma viagem de estudos. Então a casa dele se tornou uma pousada improvisada, onde eu poderia ficar o tempo que precisasse.

Procurei por ele em todos os cômodos e não consegui encontrá-lo, seja na cozinha ou em qualquer outro lugar, o que me deixou muito mais nervosa, pois pensei que estaria segura ali, mas agora também duvidava que assim fosse.

Corri para o meu quarto e fui imediatamente para a cômoda. Eu procurei ansiosamente entre as gavetas sem encontrar o que estava procurando em meus pertences. Abri as pequenas portas com a chave que permanecia na fechadura e, procurando nos meus pertences, por fim encontrei minha mochila.

Respirei fundo, olhei dentro, esperançosa, atrás do pequeno aparelho que poderia salvar minha vida, o telefone celular e ligar para a emergência.

Eu nem me lembro de ter tido esse necessidade antes, porque tive a sorte de nunca me envolver uma situação que a gravidade demandasse tal auxílio, pelo menos não desde que comprei um, pensei enquanto um véu grosso era tirado de minhas lembranças, trazendo-me momentos amargos à tona. Uma vida que eu havia me esquecido.

Assustada, perdida e agora entristecida, eu não conseguia me acalmar o suficiente para me acostumar com aquilo, apalpei todos os lugares até apertar o botão de ligar, digitei a senha e depois, fiquei parada, imóvel, não tinha certeza de que era capaz de encontrar uma explicação para a situação estranha que estava vivenciando.

Mal havia pressionado os três números, pensei ter ouvido o primeiro toque, o segundo… mas não era o que estava acontecendo. Olhei para a tela e vi a inexplicável mensagem de “Fora da área de cobertura”.

Não se dizem que funcionam no mundo todo? Contrariada, desliguei e voltei a tentar outra vez, esperando obter um resultado diferente, mas a mesma mensagem voltou à tela.

Tremendo, tentei ligar para qualquer número da minha lista, tentei entrar em contato com qualquer pessoa que pudesse pedir ajuda, mas nada, a mesma mensagem.

Eu estava com tanto medo, pois até então, sempre que eu usava o telefone, havia alguns amigos do outro lado com quem eu podia compartilhar meus momentos bons ou ruins, mas agora, que eu tanto precisava, não havia ninguém.

Irritada, joguei o aparelho na cama com desprezo, e tentei deixar a casa para seguir a outro lugar mais seguro, na corrida frenética que só fora interrompida pelos breves minutos que tentei usar o telefone.

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